O rádio e o cinema do futuro

Sπo quatro as ßreas em que se dividem os trabalhos do NiF: 1) compreensπo e representaτπo do conte·do; 2) observaτπo do consumidor da informaτπo; 3) representaτπo e interface; 4) aplicaτ⌡es concretas. O "Fishwrap" estß nessa ·ltima categoria.

O NiF, por sua vez, Θ um programa dentro do setor de "Information & Entertainment" (Informaτπo & Entretenimento). Outro programa desse setor Θ o "Television of Tomorrow" (A televisπo de amanhπ), sustentado por outro cons≤rcio de empresas de todo o mundo. Hß outros projetos em dois outros setores: "Learning & Common Sense" (Aprendizado & InteligΩncia) e "Perceptual Computing" (Computaτπo Perceptiva).

Na verdade, essas fronteiras existem apenas para uma melhor organizaτπo dos projetos, pois hß uma troca intensa de informaτ⌡es e colaboraτ⌡es entre todas as ßreas, num trabalho integrado. Um bom exemplo sπo os trabalhos desenvolvidos pelo NiF na ßrea de compreensπo e representaτπo do conte·do, quase todos em colaboraτπo com o setor de aprendizado e inteligΩncia.

Em seu segundo dia de visita virtual ao Media Lab, seu primeiro contato Θ com o professor assistente Kenneth Haase (na foto acima), que orienta os principais trabalhos nesse campo. Ele lhe explica:

Entendendo a notícia

û O objetivo do NiF Θ desenvolver softwares que podem "entender" a informaτπo e o seu consumidor individual, da mesma forma que o ser humano as entende. Essa compreensπo Θ essencial para uma efetiva filtragem da informaτπo, para a compactaτπo de textos e para o modelamento do usußrio.

Um dos projetos, "Understanding News" (Compreendendo a notφcia), procura analisar no texto os limites das frases e as possφveis relaτ⌡es entre elas. Comparando essa anßlise com outras existentes em sua mem≤ria, o sistema permite uma sumarizaτπo especφfica para cada usußrio de novos artigos,

baseado na diferenτa entre eles. Esse sistema pode se transformar em algo mais ·til, no futuro, do que o sistema de recuperaτπo por palavras-chaves ou similares jß disponφvel em banco de dados ou na Internet. O modelo atual colapsa α medida em que o n·mero de documentos relevantes aumenta, pois gera textos que deverπo ser selecionados manualmente.

A informação amadurece

û A principal inovaτπo Θ que o conte·do da informaτπo "amadurece"ao longo do tempo, pelo uso e incremento de sua mem≤ria. O foco, pois, estß no "aprender a entender"e nπo na simples compreensπo û diz Kenneth Haase.

Na mesma ßrea, outro projeto procura fazer algo idΩntico com imagens e vφdeos. "Interfaces agents" (Agentes de interfaces) Θ o projeto seguinte que vocΩ vai conhecer com a professora Patti Maes, que trabalha ali representando a Sony. A sala ampla parece apertada com tantos livros espalhados por todos os cantos. Os agentes de interfaces sπo sistemas computacionais semi-inteligentes que fazem sugest⌡es personalizadas ao usußrio sobre φtens da notφcia (texto, video ou ßudio) de um determinado banco de dados. Ou seja, eles reduzem o trabalho de busca de informaτπo, bem como o seu excesso û que s≤ gera ansiedade.

Patti explica que os agentes atuam de trΩs formas: 1) por instruτπo do usußrio sobre o que deseja receber ou nπo; 2) por "feedback" do usußrio acerca do quanto ele gostou ou nπo de determinadas informaτ⌡es selecionadas automaticamente pelo sistema; 3) os dados do "feedback" sπo utilizados para detectar similaridades entre diferentes usußrios e criar comunidades com interesses comuns. As tΘcnicas de filtro levam em conta o conte·do, mas tambΘm a posiτπo social do usußrio. Patti vira-se para o seu computador e lhe mostra na tela, um exemplo concreto: o projeto Homr ("Helpful Online Music Recomendation Service", ou Sistema de Ajuda Online de Recomendaτπo Musical), destinado a construir relacionamento entre pessoas atravΘs da m·sica, via Internet. O prot≤tipo foi iniciado com 500 tφtulos de m·sicas cadastradas e 20 usußrios; hoje tem 20 mil tφtulos e 20 mil usußrios.

Digitalização da mídia

A criaτπo de comunidades virtuais, assim, aproxima, ao invΘs de afastar as pessoas nas comunidades reais û completa Patti, que por sinal colaborou no projeto do tal cachorrinho virtual.

Sπo facilidades nascidas com a digitalizaτπo da mφdia, da mesma forma como o projeto "Salient Stills", um sistema que permite "transcodificar"em fotos de alta qualidade imagens de uma sequΩncia de video de baixa resoluτπo. Michael Massey, formado em Fφsica, agora trabalha como pesquisador assistente desse projeto do NiF. Continuando a visita imaginßria, vocΩ e ele se encontram no "Computer Garden". Massey lhe explica com a ajuda de imagens que mostra na tela de seu computador

Ele lhe mostra uma sequΩncia de fotos de um jogo de basquete em que um dos jogadores leva um tombo α medida em que corre para o garrafπo. Para reproduzir toda a cena, um jornal necessitaria no mφnimo de quatro fotos. Mas no Media Lab eles conseguem sintetizar tudo numa ·nica imagem, tirada de uma sequΩncia de vφdeo, em que apresenta-se tanto o contexto da cena (a quadra e as arquibancadas) como o conte·do detalhado da sequΩncia da queda do jogador.

Não é vídeo, não é foto...

Essa imagem "empacotada " tem, ao mesmo tempo, o campo profundo de visπo captado pelos quadros de pequena extensπo focal e os detalhes captados pelos quadros de longa extensπo focal.

û Nπo Θ vφdeo, nπo Θ foto, mas sim uma imagem digital. Uma imagem que nunca existiu, utilizando paradoxalmente apenas cenas reais tiradas da sequΩncia de vφdeo û diz o pesquisador, revelando que algumas companhias jß estudam a utilizaτπo do recurso em determinados tipos de ilustraτπo.

S≤ mesmo vendo vocΩ entende melhor tudo isso. Mas nπo Θ difφcil entender a extensπo dessa aplicaτπo. "Partindo do fato de que um conjunto de bits num sistema computacional pode ser encarado como uma forma usual de comunicaτπo, para todas as modalidades de representaτπo (ou reduzφ-las, jß que bits sπo bits), um largo campo a ser explorado no programa NiF Θ o empacotamento da notφcia em formatos diferentes daqueles de captaτπo ou criaτπo", explica Walter Bender, o principal cientista pesquisador do Media Lab, durante novo almoτo, de novo um lanche, de novo na sala dos professores, agora dividido com um grupo de industriais europeus.

O pesquisador Daniel Gruhl, que tem um rosto enorme e gosta de andar descalτo pelo "Computer Garden", Θ um dos que aproveitam para comer doses extras de sobremesa deixados pelos convidados. Ele Θ um dos que trabalham com o projeto "Data hiding" (Dados Ocultos) no qual a Kodak tem interesse enorme. Jß de volta ao "tour", voce escuta a explicaτπo dele:

û Esse sistema trata de incluir, de forma invisφvel, dados em textos, imagens e sons, de maneira a criar uma espΘcie de "marca d'ßgua" que permita a identificaτπo de sua origem ou autoria, mesmo que o material utilizado seja alterado. Sua finalidade principal Θ a proteτπo de direitos autorais, cada vez mais difφceis de controlar com a expansπo da mφdia digital, onde as coisas sπo facilmente "pirateadas". Usando um sistema de filosofia semelhante, para codificar documentos secretos, Margareth Tatcher conseguiu descobrir qual de seus assessores passava tais papΘis para a imprensa. ╔ que ela distribuiu c≤pias com c≤digos especφficos em cada uma delas.

Nessa tarde, hß ainda tempo para conhecer o rßdio e o cinema interativos. O rßdio interativo Θ um dos diversos trabalhos coordenados por Christopher Schmandt, outro veterano do Media Lab. Um dos projetos objetiva compilar notφcias de rßdio, de diferente emissoras, segmentar as hist≤rias com base em ac·stica e eventuais "deixas" semΓnticas dos locutores, com o objetivo de apresentar isso de forma "on-demand" (sob demanda) por telefone ou computador. Assim, vocΩ pode escolher as hist≤rias que deseja ouvir , "pulando" aquelas que nπo lhe interessam.

O cinema interativo Θ um sistema de armazenamento de vφdeo e ßudio de forma nπo-linear. Permite ao pr≤prio usußrio editar a hist≤ria α sua maneira. AlΘm disso, o sistema estß livre das limitaτ⌡es de tempo e conte·dos selecionados previamente, ao contrßrio do modelo tradicional. A hist≤ria, assim, torna-se mais envolvente para o espectador, como conta a professora Gloriana Davenport, que aproveita sua presenτa para matar saudados do Brasil, paφs que lhe encanta. Ela esteve aqui a convite da Escola do Futuro da USP.

Um dos prot≤tipos dessa nova "mφdia elßstica" Θ um documentßrio sobre uma obra de reurbanizaτπo de Boston. A hist≤ria se transforma a cada ediτπo, conforme a visπo do espectador e o ponto de vista de quem ele deseja compartilhar: o morador da ßrea, o operßrio da obra, as autoridades, o arquiteto, os pretendentes a novos moradores, etc.

û Enfim, Θ um cinema personalizado û sintetiza Gloriana Davenport.

Por Júlio Moreno


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